October 31, 2025

Trombocitopenia em cães como detectar e proteger seu pet eficazmente

Trombocitopenia em cães representa um desafio clínico significativo, frequentemente associado a doenças transmitidas por carrapatos, como erliquiose canina, babesiose e anaplasmose. Essas hemoparasitoses provocam uma redução crítica no número de plaquetas sanguíneas, resultando em alterações hemostáticas que podem levar a hemorragias graves, comprometimento orgânico e risco de vida se não diagnosticadas e tratadas precocemente. A compreensão aprofundada desse quadro, seus agentes etiológicos, indicadores clínicos e protocolos terapêuticos é essencial para veterinários, pet owners e profissionais de saúde pública que buscam controlar o impacto dessas infecções, especialmente no contexto brasileiro onde vetores como Rhipicephalus sanguineus e Amblyomma sculptum são endêmicos. Este texto desenvolve uma análise detalhada sobre doença do carrapato a fisiopatologia, diagnóstico e manejo da trombocitopenia em cães, destacando ações preventivas eficazes para mitigar o risco de transmissão zoonótica.

Antes de adentrar nos aspectos específicos da trombocitopenia, é importante compreender a interconexão entre o quadro hematológico da doença e o ciclo biológico dos carrapatos vetores, que funcionam como intermediários essenciais para a disseminação de patógenos riquetsiais e protozoários hemáticos. Compreender essa dinâmica é fundamental para abordar a prevenção integrada e garantir a saúde do animal e segurança das pessoas ao seu redor.

Fisiopatologia e causas da trombocitopenia em cães

A trombocitopenia consiste na redução do número absoluto de plaquetas circulantes abaixo do limite considerado normal (geralmente < 200.000 plaquetas/µL em cães). Plaquetas são células sanguíneas essenciais para a coagulação e manutenção da integridade vascular. Sua diminuição pode ocorrer por múltiplos mecanismos, sendo os mais comuns em cães infecciosos, imunomediados ou induzidos por consumo plaquetário excessivo.

Mecanismos principais da trombocitopenia em cães

As causas mais relevantes se enquadram em três categorias principais: produção insuficiente na medula óssea, consumo aumentado ou destruição acelerada periférica e redistribuição anormal.

  • Redução da produção medular: Doenças infecciosas sistêmicas, como oprimidoras virais ou bacterianas (como erliquiose por Ehrlichia canis), causam supressão direta das células-tronco hematopoéticas.
  • Destruição imunomediada: Respostas autoimunes, frequentemente desencadeadas por microrganismos hemoparasitas, promovem a presença de autoanticorpos contra plaquetas, acelerando sua lise.
  • Consumo excessivo: Em infecções graves associadas à inflamação sistêmica ou na coagulopatia disseminada por babesiose ou anaplasmose, as plaquetas são consumidas em maior quantidade na tentativa de reparar danos vasculares e microtromboses.
  • Sequestro esplênico: Esplenomegalia secundária a infecções crônicas pode ocasionar maior retenção e destruição de plaquetas no baço.

Principais agentes etiológicos envolvendo trombocitopenia

A erliquiose canina é a principal doença relacionada à trombocitopenia no Brasil, causada pela bactéria Ehrlichia canis, transmitida pelo carrapato Rhipicephalus sanguineus. A doença apresenta um período de incubação entre 8 e 20 dias, após o qual as plaquetas começam a cair abruptamente. A babesiose, mediada por protozoários do gênero Babesia, é outra importante hemoparasitose que promove grave trombocitopenia devido à destruição das células vermelhas e complicações hemorrágicas.

Não menos relevante é a anaplasmose, cujo agente Anaplasma platys infecta diretamente as plaquetas, causando uma redução marcada e temporária no seu número, e a febre maculosa brasileira, infecção riquetsial causada por Rickettsia rickettsii transmitida pelo carrapato Amblyomma sculptum, que pode evoluir com vasculite e trombocitopenia severa.

Essas doenças estão historicamente documentadas em boletins epidemiológicos do Ministério da Saúde e representam riscos tanto para cães quanto para humanos, caracterizando uma área de preocupação importante para zoonoses com potencial impacto socioeconômico.

Manifestações clínicas e importância do diagnóstico precoce

O reconhecimento dos sinais clínicos relacionados à trombocitopenia em cães é decisivo para implementar intervenções rápidas e minimizar sequelas graves. Pacientes afetados apresentam sintomas que variam de acordo com a gravidade da queda plaquetária e doença subjacente.

Sintomas mais frequentes relacionados à trombocitopenia

Os donos costumam identificar sinais como manchas roxas ou petéquias na pele e mucosas, sangramentos anormais (gengivorragia, epistaxe), fadiga, perda de apetite, febre intermitente e ataxia. Em casos mais avançados, pode haver hemorragias internas, hemorragia subconjuntival, hematomas profundos e vômitos com sangue.

É fundamental que os tutores estejam atentos a essas manifestações porque a janela crítica para intervenções — geralmente entre as primeiras 24 e 48 horas após o início dos sintomas — pode determinar o prognóstico, evitando insuficiência múltipla de órgãos e a morte súbita do animal.

Diagnóstico laboratorial e exames complementares

O hemograma completo é o exame-base para evidenciar a trombocitopenia. Contagens de plaquetas inferiores a 100.000/µL já indicam quadro grave. Exames sorológicos para erliquiose, PCR para identificação do DNA bacteriano, teste rápido para babesiose e avaliação do painel bioquímico ajudam no diagnóstico etiológico.

Além disso, o exame parasitológico das gotículas sanguíneas, análise do líquido pleural ou ascítico (quando presente), e pesquisa de anticorpos anti-plaquetas podem ser requisitados para descartar causas autoimunes ou neoplásicas.

Ao veterinário, recomenda-se solicitar também exames de imagem (ultrassonografia abdominal, radiografia) para avaliar os órgãos internos e descartar lesões secundárias, como esplenomegalia ou linfadenopatia.

Tratamento e manejo clínico baseado em protocolos oficiais

Após o diagnóstico preciso, a conduta terapêutica deve ser imediata e guiada pelos protocolos do CFMV, SBMT e recomendações das pesquisas do IOC/Fiocruz, priorizando a eliminação do agente etiológico e o suporte hemostático.

Terapia específica para hemoparasitoses causadoras de trombocitopenia

No caso da erliquiose canina, a terapia de escolha é a administração de doxiciclina por 28 dias, com doses ajustadas ao peso. Em casos avançados, corticóides podem ser indicados para reduzir respostas imunes exacerbadas que destroem plaquetas.

Para babesiose, o antiparasitário dipropionato de imidocarb é o tratamento mais eficaz, combinado frequentemente com fluido terapia e transfusões sanguíneas quando há anemia severa e coagulopatia.

O manejo da anaplasmose envolve uso também de doxiciclina, destacando a importância do diagnóstico diferencial para adaptar o protocolo ao agente específico.

Suporte geral e monitoramento clínico

O manejo das complicações inclui controle da dor, reposição volêmica agressiva, suporte nutricional e monitoramento constante da contagem plaquetária. Nos cuidados emergenciais, transfusões de plaquetas ou sangue total devem ser feitas em situações de hemorragia ativa.

O controle do carrapato, fator chave para a reinfecção, requer o uso simultâneo de carrapaticidas de qualidade comprovada, dentro de estratégias integradas que incluem limpeza ambiental e acompanhamento frequente do animal.

Prevenção da trombocitopenia associada a hemoparasitoses: uma abordagem integrada

Evitar o contato do cão com os vetores é a medida mais eficiente para a prevenção destas doenças e consequente trombocitopenia. A implementação de técnicas preventivas é um dever para o responsável pelo animal e a comunidade veterinária.

Uso correto de antiparasitários e carrapaticidas

Os carrapatos Rhipicephalus sanguineus Amblyomma sculptum são os principais vetores no Brasil, apresentando alta resistência a diversos produtos. Para garantir efetividade, recomenda-se o uso rotativo e contínuo de carrapaticidas aprovados no mercado, aplicados conforme as indicações técnicas do fabricante e orientações do CRMV.

Produtos tópicos, orais e injetáveis devem ser avaliados caso a caso, respeitando peso e idade do animal, para evitar toxicidade e garantir a proteção durante todo o ciclo de vida do carrapato, que pode durar semanas. A supervisão veterinária é imprescindível para ajuste de doses e tratamento concomitante.

Controle ambiental e manejo do habitat

Ambientes domésticos e áreas externas devem ser mantidos limpos e tratados para redução da população de carrapatos, assim como áreas de descanso do cão. O controle biológico e a destruição dos focos de carrapatos aumentam a eficácia da prevenção e diminuem a probabilidade de reinfecção.

Educação e conscientização dos tutores

Esclarecer os tutores sobre os riscos das hemoparasitoses e a importância do manejo preventivo, bem como a necessidade de procurar atendimento veterinário diante dos primeiros sinais, é um componente vital para evitar casos avançados de trombocitopenia e suas consequências.

Resumo e orientações práticas para manejo da trombocitopenia em cães

O controle efetivo da trombocitopenia em cães depende de diagnóstico preciso, tratamento rápido e prevenção integrada. Pet owners devem observar sinais atípicos e buscar atendimento veterinário imediato se encontrarem petéquias, sangramentos ou apatia inusual, especialmente em regiões endêmicas para erliquiose, babesiose e outras hemoparasitoses.

Ao veterinário, recomenda-se solicitar hemograma completo, exames sorológicos específicos e PCR para identificação do agente etiológico. O uso racional de doxiciclina ou dipropionato de imidocarb segundo protocolos oficiais é fundamental para erradicação da infecção e reversão do quadro de trombocitopenia.

Medidas preventivas rigorosas, incluindo uso frequente de produtos carrapaticidas e controle ambiental, reduzem em até 95% o risco de infecção. A vigilância contínua da população canina e o alinhamento com diretrizes do Ministério da Saúde e instituições científicas brasileiras potenciam o sucesso no manejo clínico e epidemiológico dessa condição.

Procurar atendimento especializado ao menor sinal de alteração hematológica, realizar exames laboratoriais detalhados e manter programa antiparasitário constante são os passos essenciais para promover longevidade e qualidade de vida aos cães, assim como diminuir o risco de zoonoses relacionadas.

Arquiteta dimensional especializada em amplificar consciência coletiva. Fundadora-chefe da Dimensão Nova.