October 6, 2025

Manutenção elétrica urgente para reduzir riscos e custos

Um contrato manutenção elétrica bem redigido é a ferramenta contratual que garante a confiabilidade, a segurança e a conformidade das instalações elétricas de uma edificação ou planta industrial. Além de reduzir custos operacionais e evitar paradas não programadas, um contrato corretamente estruturado assegura o atendimento às exigências de normas brasileiras como NBR 5410 e NR-10, mitigando riscos de acidentes elétricos e responsabilizações legais.

Nos tópicos seguintes, abordarei de forma aprofundada os elementos essenciais para elaborar, negociar e executar um contrato de manutenção elétrica que seja técnico, seguro e fiscalizável. Cada seção foi pensada para fornecer subsídios técnicos e práticos — desde o escopo técnico até cláusulas contratuais, métricas de desempenho e procedimentos de segurança — permitindo que gestores e responsáveis técnicos possam tomar decisões informadas e cumprir obrigações normativas.

Definição do escopo técnico do contrato manutenção elétrica

Antes de formalizar, é necessário detalhar exatamente o que será mantido e com qual nível de serviço. O escopo determina responsabilidades, periodicidade, recursos e custos; também informa requisitos de segurança e conformidade.

Ativos e sistemas cobertos

Liste com precisão todos os ativos elétricos incluídos: painéis de baixa tensão (BT), centros de controle de motores (CCM), transformadores, subestações, geradores, Sistema de Proteção contra Descargas Atmosféricas (SPDA), sistema de aterramento, linhas de média tensão (MT) internas, no-breaks, dps e cabeamento estrutural. Para cada item, especifique modelo, fabricante, tensão nominal, potência e localização física.

Tipos de manutenção incluídos

Defina claramente os regimes que compõem o contrato:

  • manutenção preventiva: inspeção programada, limpeza, aperto de conexões, lubrificação de partes móveis e calibração de instrumentação;
  • manutenção preditiva: monitoramentos por termografia, análise de vibração, ensaios de óleo em transformadores e análise de corrente para previsão de falhas;
  • manutenção corretiva: atendimento a falhas não programadas, com SLAs diferenciados para falhas críticas;
  • manutenção melhoria: projetos de retrofit, adequações para conformidade normativa e melhoria de eficiência energética.

Atividades específicas e métricas

Para cada ativo, detalhar as tarefas com frequência e critérios de aceitação: exemplo — inspeção termográfica semestral em painéis BT; ensaio de resistência de isolamento anual em cabos e motores; medição da resistência de aterramento semestral. Estabeleça KPIs como tempo médio de reparo ( MTTR), disponibilidade, taxa de falhas e nível de conformidade com ordens de serviço.

Transição: com o escopo definido, é obrigatório integrar o contrato às normas e requisitos legais aplicáveis para garantir conformidade e reduzir riscos.

Requisitos normativos, responsabilidade técnica e qualificações

O contrato deve explicitar o enquadramento nas normas técnicas brasileiras e a responsabilidade técnica da prestação. Exigir comprovações formais evita riscos legais e operacionais.

Normas aplicáveis e exigências principais

O conteúdo da manutenção elétrica deve seguir a NBR 5410 (instalações elétricas de baixa tensão) no que se refere à proteção, aterramento, continuidade de condutores e equipamentos. A NR-10 define requisitos mínimos de segurança para trabalho com eletricidade: análise de risco, medidas de proteção coletiva e individual, sinais de segurança, treinamentos e a necessidade de elaboração de procedimentos escritos. Em contratos com redes de média tensão, considerar normas complementares e especificações do concessionário.

Responsabilidade técnica (ART/CREA) e qualificação

Exigir Anotação de Responsabilidade Técnica (ART) para serviços de engenharia e projeto, além do registro da empresa e dos profissionais no CREA. Membros da equipe que executam atividades energizadas ou de risco elétrico devem ter certificação de capacitação conforme NR-10, com reciclagem periódica e registro documental no contrato.

Seguro técnico e garantias

Contratar seguro de responsabilidade civil e garantia de serviços (garantia de mão de obra e peças) reduz exposição financeira. Condições de cobertura devem incluir danos a terceiros, paralisação de atividade e eventos decorrentes de falhas de manutenção.

Transição: a seguir, detalho as atividades técnicas e ensaios que devem constar no cronograma do contrato, com parâmetros e procedimentos que forneçam evidência técnica e conformidade.

Atividades, ensaios e procedimentos técnicos que não podem faltar

Listarei tarefas e ensaios com detalhamento técnico, critérios de aceitação e frequência recomendada. Esses itens compõem o núcleo operacional do contrato e geram relatórios exigidos por auditorias e normas.

Inspeção visual e manutenção preventiva básica

Inspeções visuais mensais ou trimestrais para identificar sinais de aquecimento, oxidação, afrouxamento de conexões, infiltrações e corrosão. Procedimentos incluem limpeza com materiais não condutores, verificação de torque em bornes conforme especificação do fabricante e inspeção de selos e gaxetas para manter grau de proteção (IP). Documente tudo em checklist padronizado.

Termografia por infravermelho

A termografia detecta pontos quentes que indicam conexões soltas, desequilíbrios de carga e falhas incipientes. Recomenda-se leitura antes de janelas operacionais e sempre em condições de carga representativas. Interpretar imagens com engenheiro qualificado, correlacionando temperatura medida com corrente e ponto de medição; emitir relatório com ações corretivas priorizadas.

Ensaios elétricos

  • Resistência de isolamento: ensaio com megôhmetro; para instalações de baixa tensão, valores típicos de referência são superiores a 1 MΩ, mas sempre comparar com as especificações do fabricante e projeto;
  • Medição de resistência de aterramento: método de queda de potencial; registrar valores e tendência ao longo do tempo. A NBR 5410 orienta a adoção de medidas para manter o sistema de aterramento funcional; valores aceitáveis dependem da aplicação, porém instalações críticas devem visar resistência muito baixa (geralmente < 1–5 Ω) e edifícios comerciais podem aceitar até 10 Ω conforme análise técnica;
  • Ensaios em proteção: testes de relés, ajustes, curvas tempo-corrente e ensaio de seletividade e coordenação para garantir proteção e disponibilidade;
  • Teste de disjuntores: prova de operação, teste de tempo de disparo, ensaio de resistência de manobra e inspeção de mecanismo;
  • Análise de qualidade de energia: medição de harmônicos, flutuação de tensão e desequilíbrios de fase para diagnóstico de perdas e aquecimento anômalo;
  • Ensaios em transformadores: relação de transformação, corrente de excitação, perdas e análise de óleo dielétrico para transformadores imersos.

Manutenção preditiva específica

Inclua programações para monitoramento por vibração em motores e bombas, análise de óleo em transformadores, monitoramento de correntes para detectar tendência de sobrecarga e análise teórica de vida residual de componentes. A manutenção preditiva permite transitar de reativo para proativo, reduzindo paradas e aumentando a segurança.

Testes pós-serviço e aceitação

Toda intervenção deve terminar com ensaios de aceitação que comprovem a restauração das condições operacionais. Isso inclui leituras de corrente/tensão, ensaios de isolamento, prova funcional de proteções e emissão de relatório técnico assinado por responsável. Sem aceite formal, considerar o serviço não concluído.

Transição: para que as atividades técnicas tenham validade legal e sirvam de prova de conformidade, é essencial definir documentação, registros e controles que o contrato deve prever.

Documentação, registros e gestão da informação técnica

A documentação é meio de prova em auditorias e fiscalizações; o contrato precisa estabelecer formatos, prazos de entrega e requisitos de armazenamento para evidências de manutenção.

Relatórios e laudos

Cada intervenção deve gerar um relatório técnico com descrição dos serviços, medições, fotos, imagens termográficas, assinaturas do responsável técnico (RT) e indicação das não conformidades. Laudos periódicos — por exemplo, laudo de SPDA, laudo de aterramento e laudo de proteção — são obrigatórios em alguns contextos e recomendáveis em todos.

Registros de calibração e equipamentos

Exigir que todos os instrumentos de medição possuam calibração rastreável com certificados válidos. Manter registro de equipamentos críticos, vida útil prevista, histórico de manutenção e estoque mínimo de peças de reposição para reduzir MTTR.

Procedimentos, permissão de trabalho e bloqueio

O contrato deve requerer que qualquer serviço seja precedido por Procedimento Operacional/Permissão de Trabalho, com análise de risco, autorização do responsável pela planta e execução do bloqueio e travamento ( lockout/tagout) para trabalhos em partes vivas. Esses documentos são obrigatórios segundo a NR-10.

Registro de treinamentos

Manter evidências de capacitação em NR-10, uso de EPI e práticas de trabalho seguro de todos os profissionais. Definir periodicidade de reciclagem e responsabilizar contratada por manter certificações atualizadas.

Transição: além de aspectos técnicos e documentais, a segurança operacional requer medidas claras para prevenir acidentes elétricos e limitar consequências em caso de eventos.

Medidas de segurança, mitigação de riscos e protocolos de emergência

A manutenção elétrica é uma atividade de risco. O contrato deve impor medidas preventivas, equipamentos de proteção adequados e protocolos para eventos como falhas de equipamentos, arco elétrico e incêndio.

Análise de risco e medida de controle

Realizar análise de risco sistemática antes da execução de serviços, identificando perigos elétricos, avaliação de probabilidade e severidade e definindo controles técnicos e administrativos. A análise deve contemplar risco de arco elétrico, contato direto e indireto, e espaços confinados quando aplicável.

Equipamentos de proteção coletiva e individual

Observar hierarquia de controles: priorizar medidas de proteção coletiva (barreiras, intertravamentos e sinalização) e completar com EPI adequados: luvas isolantes, mangotes, face shield ou máscara anti-arco, roupas de proteção contra arco elétrico com grau de proteção adequado (ARC rating), capacete dielétrico e calçado de segurança. Defina classes e níveis de EPI conforme análise de risco.

Prevenção e controle de arco elétrico

Realize estudos de elétrica manutenção arc flash para identificar limites de aproximação, energia incidente e requisitos de PPE. Estabeleça procedimentos específicos para trabalhos dentro dos limites de proteção, incluindo documentação, supervisão e técnicas de seccionamento.

Plano de resposta a emergências

O contrato deve obrigar a contratada a manter plano de resposta a emergências: equipe treinada de atendimento, equipamentos de suporte (extintores apropriados, kits de atendimento a queimaduras), procedimentos de isolamento rápido de circuitos e comunicação com serviços médicos. Simulações e drills anuais ajudam a validar o plano.

Transição: para que o contrato seja funcional, inclua cláusulas comerciais e operacionais que incentivem desempenho, prejudiquem negligência e protejam ambas as partes.

Cláusulas contratuais essenciais: responsabilidades, SLA e penalidades

Clareza contratual reduz conflitos e fornece instrumentos de execução. Abaixo cláusulas que costumam causar litigiosidade se estiverem omissas ou vagas.

Responsabilidades do contratante e da contratada

Defina que o contratante fornece acesso à planta, informações técnicas e autorizações necessárias; a contratada é responsável por planejamento, execução, EPI, material, ferramentas e cumprimento de normas. Estipule prazos para manifestação frente a restrições operacionais.

Níveis de serviço (SLA) e prioridades

Classifique falhas por criticidade (crítico, alto, médio, baixo) e defina tempos de resposta e resolução (por exemplo: resposta em até 2 horas para falha crítica; reparo temporário em 8 horas; solução definitiva em 72 horas). Inclua indicadores mensuráveis: disponibilidade (%), MTTR e tempo de atendimento.

Penalidades, bonificações e revisões contratuais

Preveja multas por descumprimento dos SLA, bônus por desempenho superior e cláusulas de revisão periódica de preços e escopo para acomodar mudanças tecnológicas ou normativas. Incluir cláusula de reposição de peças com prazo máximo e obrigação de comunicar indisponibilidade de componentes críticos.

Subcontratação e confidencialidade

Permitir subcontratação apenas mediante consentimento prévio e exigir que subcontratados atendam mesma qualificação técnica, segurança e obrigações contratuais. Incluir cláusula de confidencialidade sobre desenhos, esquemas e dados operacionais.

Transição: a gestão eficiente do contrato exige métricas e governança; vejamos quais indicadores e rotinas adotar para acompanhar desempenho técnico e de segurança.

Monitoramento de desempenho, auditoria e governança técnica

Implantar rotinas de gestor de contrato, auditorias técnicas e revisões periódicas garante que compromissos sejam cumpridos e que o plano de manutenção evolua com necessidades operacionais.

Reuniões de revisão e indicadores

Reuniões mensais devem abordar indicadores como número de ordens de serviço fechadas, SLA atendidos, ocorrências de segurança, ações corretivas pendentes e status de peças de reposição. KPI recomendados: disponibilidade, MTTR, número de incidentes com lesão, % de ordens preventivas vs corretivas e conformidade documental.

Auditoria técnica independente

Incluir direito do contratante de contratar auditoria técnica independente anual para verificar conformidade com NBR 5410, NR-10 e obrigações contratuais. Auditorias ajudam a detectar desvios de procedimento, falta de registros e risco latente.

Gestão de mudança e melhoria contínua

Estabelecer processo formal para solicitação de melhorias e alterações de projeto, com avaliação técnica de impacto em segurança, disponibilidade e custo. Revisões contratuais devem prever tratamento de não conformidades e plano de ação corretiva com prazos.

Transição: por fim, um resumo conciso dos pontos de segurança críticos e passos práticos para contratar serviços profissionais sem expor a instalação a riscos desnecessários.

Resumo de segurança e próximos passos para contratação

Segurança e conformidade são o fio condutor de qualquer contrato manutenção elétrica. Priorize contratos que:

  • Definam escopo detalhado com ativos, atividades e frequências;
  • Exijam responsabilidade técnica ( ART/CREA) e capacitação conforme NR-10;
  • Incluam controles de qualidade: relatórios técnicos, calibração de instrumentos e provas de ensaio;
  • Prevejam medidas específicas de prevenção de arco elétrico e políticas claras de lockout/tagout;
  • Estabeleçam SLA mensuráveis, KPIs e auditorias independentes;
  • Exijam seguro e garantia técnica da contratada.

Próximos passos práticos:

  • Mapear ativos elétricos críticos e coletar documentação técnica (diagramas unifilares, memoriais, lista de peças);
  • Elaborar termo de referência com escopo mínimo, incluindo periodicidade, ensaios obrigatórios e requisitos de segurança;
  • Solicitar propostas técnicas com comprovação de ART, capacitação NR-10, certificados de calibração e referências;
  • Comparar propostas não apenas por preço, mas por SLA, tempo de atendimento, capacidade de atendimento a emergências e disponibilidade de peças;
  • Negociar cláusulas de governança: indicadores, auditorias, revisões contratuais e penalidades;
  • Executar um contrato piloto (por exemplo, 6 meses) com avaliação técnica antes de ampliar o escopo contratual;
  • Manter plano de capacitação contínua e realizar auditorias regulares para garantir conformidade.
  • Contratar serviços de manutenção elétrica exige combinar conhecimentos técnicos, exigências normativas e gestão contratual rigorosa. Um contrato bem redigido reduz riscos, aumenta disponibilidade, garante conformidade com NBR 5410 e NR-10 e protege patrimonial e vidas. A adoção de práticas preditivas, a documentação rigorosa e a supervisão técnica permanente transformam a manutenção em ferramenta estratégica de segurança e eficiência.

    Arquiteta dimensional especializada em amplificar consciência coletiva. Fundadora-chefe da Dimensão Nova.